Nos últimos dias, têm sido muitas as homenagens a Sara Tavares, a cantora que faleceu, prematuramente, aos 45 anos, no último domingo, 19 de novembro. Porém, o relato, de voz embargada, de Inês Lopes Gonçalves, na Rádio Renascença, sobre uma história com Sara Tavares, é um dos que melhor espelha quem foi a incrível cantora, mas como pessoa.
Já muito se falou sobre o bom coração de Sara Tavares. A radialista demonstrou isso da melhor forma, nesta bonita história, que está a dar que falar.
Inês Lopes Gonçalves recuou mais de oito anos, para o dia em que os seus filhos gémeos nasceram. Antes do parto, no entanto, rebentaram-lhe as águas e ligou ao marido, Ivo Costa, que se preparava para subir a palco e tocar no concerto de Sara Tavares.
“O Ivo [Costa], que é o meu marido, tocou, durante muitos anos, com a Sara Tavares. Há um dia, em 2015, o dia 3 de junho, o Ivo ia fazer o último concerto com a Sara antes de os nossos filhos nascerem. Ele tinha decidido que aquele era o último, porque estava ali a aproximar-se a data do parto. Era um concerto em Lisboa, na zona de Algés, e assim foi. À noite, optei por não ir ao concerto, porque já estava um bocadinho cansada.
O Ivo sai para tocar e meia hora, 45 minutos depois foi um rebentar de águas mesmo à Hollywood. ‘Então e agora?’ Ligo ao Ivo: ‘Passou-se isto’. E ele: ‘O quê? Não, é nada’. No outro lado, diziam: ‘Calma, isso ainda vai demorar imenso tempo’. Depois, liguei ao médico: ‘Olhe, estão aqui a dizer que, se calhar, ele tem tempo’. E ele disse-me: ‘Não, não. Ele não tem tempo’.
Ele estava a dez minutos de subir a palco para um concerto para milhares de pessoas e não sabia o que fazer. Ele estava nervosíssimo. Andava de um lado para o outro, a levar as mãos à cabeça: ‘E agora o que faço? Será que tenho tempo? Será que posso tocar? Será que dá para esperar duas horas?’. Às tantas, a Sara apercebe-se de que estava ali uma agitação qualquer e disse: ‘O que é que se passa?’. ‘Olha, passa-se isto: a Inês está no hospital. A bolsa rebentou, os miúdos vão nascer a qualquer momento’. A Sara olhou para ele e só disse: ‘O que é que estás aqui a fazer? Vai-te embora! Vai embora só'”, contou Inês Lopes de Gonçalves, perante o olhar enternecido da também muito comovida Ana Galvão.
“Isto é extraordinário, porque poucas pessoas fariam isto. Não condeno, porque é um trabalho. Eu percebo, é um concerto, de repente, um artista não tem de ficar privado de um dos músicos por esta razão. Mas acho que isto revela muito do que era a Sara, da doçura que ela tinha. E foi muito bonito, porque, depois, quando tocou esta canção, ela contou esta história e dedicou-a aos meus filhos. Percebemos isso porque começámos a receber muitas mensagens.
Apercebi-me da quantidade de coincidências. Eu soube que estava grávida deles no dia dos 20 anos de carreira dela e o primeiro festival onde eles foram, foi para ver a Sara. Acho que ela vai estar sempre, sempre ligada à vida deles, à nossa vida e vamos ter muitas saudades”, completou Inês Lopes Gonçalves, muito emocionada.