António Costa apresentou o seu pedido de demissão, esta terça-feira, 7 de novembro, deixando uma enorme dúvida sobre o futuro do país.
Com as palavras certas, o jornalista Luís Osório traça o retrato do momento, no seu ‘Postal do Dia’, e a mensagem já é viral, nas redes sociais.
O jornalista não duvida que o primeiro-ministro tomou a decisão certa, ao demitir-se, mas não o considera culpado, na suposta corrupção. Por outro lado, culpa-o por se ter cercado das pessoas erradas, sendo, por isso, o responsável por todo este esquema do hidrogénio e o lítio, que o atira para fora do Governo. Mas, sem nunca esquecer, a liderança de Costa, especialmente, durante a pandemia.
Luís Osório prevê novas eleições, com Pedro Nuno Santos a assumir os destinos do PS e, possivelmente, do país, novamente, num formato de ‘geringonça’ de esquerda. Por outro lado, Luís Montenegro (PSD) poderá ter a sua oportunidade, caso se descole, definitivamente, do Chega. Chega, esse, que Luís Osório vê a ‘dar’ o governo ao PS, de Nuno Santos.
Fique com o ‘Postal do Dia’ de Luís Osório:
A culpa de António Costa é evidente, mas talvez não é a que imaginas
1.
Há uns dias, em frente a uma plateia de cerca de cem pessoas, na Feira do Livro de Coruche, deixei a minha opinião sobre a democracia.
Disse o que qualquer democrata acredita ser verdade, que é importante existir rotatividade de poder – mesmo que seja entre figuras do mesmo partido –, que não é bom quando um primeiro-ministro se eterniza, que deve existir uma limitação de mandatos também para o cargo de chefe do executivo (como existe para o de Presidente da República ou para os autarcas) e por fim que me parecia que António Costa já chegara ao fim da linha – porque o poder é terrível e perverso, porque se lhe notava o cansaço e também o cansaço dos portugueses – mesmo que tal não se refletisse nas sondagens.
Disse há uns dias o que digo sempre.
Tento na análise política, assumindo-me de esquerda, ser o mais coerente possível sabendo que neste território, como na religião ou no futebol, é sempre um campo minado, não há volta a dar.
2.
O postal do dia não é uma crónica política ou de opinião política, mas é impossível hoje fugir ao tema.
António Costa demitiu-se e assumiu estar fora de hipótese qualquer recandidatura.
Para ele acabou, foi o ponto final parágrafo num ciclo político que, apesar de tudo, mudou a face e o paradigma do país e da política portuguesa.
Poucos imaginariam que conseguisse algumas quadraturas do círculo: quando governou com o apoio do PCP e do BE, quando retirou ao PSD o exclusivo das contas certas ou quando formou o primeiro executivo paritário, conseguiu deixar uma marca.
E foi o primeiro-ministro que nos liderou (e muito bem) num tempo que jamais esqueceremos, o da pandemia. Estivemos juntos, mesmo os que dele não gostavam. E ele esteve genericamente bem, foi corajoso e pouco vacilou.
Ficará na história.
E logo se verá o que a história dele dirá.
António Costa não merecia acabar assim este ciclo, mas infelizmente teve culpas nisso.
3.
Por partes.
(e muito rapidamente)
Não acredito que António Costa seja corrupto direta ou indiretamente.
Não faz qualquer sentido.
António está na política há 50 anos.
Passou por todos os lugares, teve todas as oportunidades e o seu perfil não é o perfil de alguém que se aproveita da política para fins materiais – a sua ambição é política, não financeira.
Porém, António Costa é o primeiro culpado político desta situação.
Porque foi ele quem convidou Vítor Escária para chefe de gabinete.
Como foi ele quem envolveu Diogo Lacerda Machado em várias operações com demasiados interesses envolvidos.
E foi ele quem manteve, contra toda a lógica (como aqui escrevi), João Galamba, um personagem para o qual não há palavras.
António Costa não se protegeu a si próprio e o preço foi alto.
4.
Voltarei ao assunto um dia destes.
Deixo telegraficamente algumas pistas soltas que nos alimentarão as conversas:
– Marcelo Rebelo de Sousa marcará eleições talvez no último mês do primeiro trimestre de 2024. Não creio que o Presidente tenha outra ideia, não pedirá ao PS que nomeie outro nome e não fará um governo de iniciativa presidencial.
– O Presidente da República serviu a vingança muito fria, quase gelada. A afronta de Costa ao manter Galamba foi paga com língua de palmo.
– Pedro Nuno Santos ganhará o Partido Socialista e será um adversário feroz para a direita e o centro-direita. O seu carisma levará a comunicação social a oferecer-lhe os melhores bocadinhos da sua carne mediática e pode chegar a primeiro-ministro com uma nova “geringonça”.
– As próximas eleições serão um grande desafio para PCP e BE, o efeito Pedro Nuno é imprevisível.
– Luís Montenegro terá aqui a sua grande oportunidade. Será para ele o tudo ou nada, mas só conseguirá ter uma hipótese se disser coisas que as pessoas retenham, se conseguir misturar-se nas ruas com os portugueses, se ganhar uma dimensão afetiva que possa compensar a desconfiança em relação às suas capacidades, se estiver acompanhado por pessoas que o país reconheça e se chutar o Chega para canto.
– O Chega poderá fazer o PS ganhar as eleições – Pedro Nuno galopará o perigo da extrema-direita – ou poderá fazer o PSD ganhá-las. Um paradoxo cuja resolução será decisiva para a vitória da esquerda ou da direita.
O que penso sobre o tema, sobre cada um destes temas, ficará para outra oportunidade.
5.
Uma nota pessoal para dar um abraço ao Duarte Cordeiro.
Seria capaz de pôr as mãos no fogo por ele.
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