João Neves é uma das novas estrelas do futebol nacional. O jovem craque do Benfica já é internacional português e é um indiscutível na equipa de Roger Schmidt.
Aos 19 anos, não só é titular da equipa campeã nacional, como também uma das suas mais proeminentes figuras e de toda a Liga. Porém, há mais do que um jogador talentoso neste jovem algarvio. Há uma personalidade diferente que exala e que merecem as palavras que Luís Osório lhe dispensa no seu ‘Postal do Dia’. Uma carta aberta a João Neves que está a emocionar a família benfiquista.
“João Neves telefona para a mãe todas as noites antes de dormir
1.
João Neves é o contrário do que normalmente associamos aos que atingem o estatuto de estrelas do futebol.
Não apenas pelo que aparenta ser, mas pelo seu corpo franzino, pouco mais de 1,70 metros para sessenta e poucos quilos de peso.
A maioria dos jogadores do meio-campo são temíveis máquinas de músculos e atemorizam pelo modo de olhar, de correr, de estar.
João Neves fez há uns meses 19 anos e tudo nele é juventude. Sorri como se não existisse possibilidade de malícia, sorri como o miúdo que é e olha para Di Maria ou Cristiano Ronaldo como qualquer miúdo adolescente.
2.
É mais baixo.
Mais jovem.
Mais frágil.
Mas dentro do campo transfigura-se.
Ganha mais bolas do que os outros.
É mais forte do que os outros.
Parece mais experiente do que os mais velhos.
O que leva um miúdo a ser predestinado?
Com tantos milhões de crianças que fazem tudo para ser grandes jogadores, o que faz que alguém consiga lá chegar? E quando vemos um miúdo assim, com aquele sorriso de menino bom, a pergunta ainda me ocorre com mais propriedade – o que João tem que os outros não têm, que partícula existe, será Deus que escolhe os que nos viram do avesso?
3.
João tem 19 anos, mas deixou de viver com a família aos 11.
Morava em Tavira com os pais e uma irmã. Era um protegido, acordava sem preocupações, gostava de gostar, era adorado e jogava futebol no Algarve sem pensar em mais nada do que correr, cansar-se e divertir-se.
Mas o Benfica convidou-o a ir e ele na noite em que se decidiu enroscou-se na cama com a mãe, abraçou-a o mais forte que conseguiu e perguntou-lhe o que ela achava.
Que por ela não, mas que o apoiaria sempre em qualquer decisão. Era o seu futuro e ela estaria sempre, mesmo que ele fosse.
O pequeno João vivia em Tavira, terminara o sexto ano, tinha tudo ali, os avós, os amigos, o único futuro que conhecia.
Mas foi.
O pai, agente da PSP e treinador de miúdos em Tavira, e a mãe, professora de Educação Física, deixaram-no ir.
E quando ele foi abraçaram-se à filha que ficou, um abraço que deve ter sido bem longo, assim como as lágrimas que o pequeno João não chegou a ver, que não podia ver.
3.
João Neves sairá no final da época para um grande clube internacional. Ou no ano a seguir. Se nada de extraordinário acontecer terá uma carreira prodigiosa, ganhará muito dinheiro e tudo o resto…
… mas até ao fim jogará sempre com a camisola dentro dos calções como o pai lhe pediu quando era criança. Que nunca se esquecesse de respeitar a história e os mais velhos.
Acrescento o que a mãe lhe deve ter pedido mil vezes; para nunca perder aquele olhar de criança, para nunca se esquecer que a vida deve ser vista com aqueles olhos de esperança, de felicidade, de futuro.
4.
No dia em que se estreou no Algarve com a camisola principal do Benfica vimo-lo a correr até à bancada para abraçar o pai.
No dia em que ganhou a Supertaça ao FC. Porto vimo-lo a telefonar à mãe.
O que ele tem de especial que os outros não têm?
Existirá uma partícula ou é aleatório?
Aos 11 anos passou a adormecer todas as noites sem a família. Telefonava, ainda telefona, às onze da noite, todos os dias para o beijinho.
Como o compreendo.
Como te compreendo, João”.
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