A notícia da morte tão prematura de Sara Tavares deixou um sentimento de tristeza entre todos, particularmente, entre os pares. São vários os músicos e grandes figuras do meio artístico que têm deixado homenagens emocionadas, neste momento de luto. Mas, sem dúvida, que Carolina Deslandes roubou umas lágrimas, com o seu texto sobre a cantora de ‘Chamar a Música’.
Carolina Deslandes recordou o dia em que recebeu um disco de Sara Tavares, e como viveu esse momento, terminando a questionar-se se Sara Tavares saberia do amor que tantos lhe guardavam.
“Receber um disco, nesta altura, era como receber um tesouro. Não havia este trânsito de mil músicas a sair ao mesmo tempo. Não existiam tendências, nem hashtags, existiam emissores dedicados e receptores devotos. Era um fascínio abrir um disco, ler os créditos e os agradecimentos, deixar o disco acabar e rezar que existissem faixas surpresa, já depois do suposto fim.
Foi com essa ânsia e felicidade que recebi este disco – era meu e eu podia passar com ele todo o tempo que quisesse, e foi isso que fiz.
Os grandes artistas não são distantes de nós. São de casa, sem saberem. Os verdadeiros fãs, querem la saber se ele sabem ou não, querem só que eles existam. A Sara foi professora de kriolo, foi professora de respiração, naquela frase “mistura de semba com samba de mambo com rumba, tua mão na minha e a minha na tua” (como é que ela respira ali? Até hoje não sei), foi professora da autenticidade por nunca largar nada do que a distinguia para vender mais, foi minha amiga no meu quarto de adolescente enquanto a ouvia cantar o amor, foi a minha inspiração. De braço dado com a sua cultura, a Sara tocou-nos e tocou o mundo. Uma Diva não é uma presença arrogante e exigente, é uma presença que se auto anuncia e que capta a atenção, e quando a Sara cantava até as pedras dançavam, e quando cantava baladas, o silêncio imperava nas salas – nem o vento se atrevia a falar.
Nestas últimas horas perguntei-me muitas vezes “Será que a Sara sabia deste amor? Será que ela sabia que no dia em que nos deixasse o país inteiro ia estar de luto?” – não sei. Mas sei isto: a vida é rápida. E cheia de coisas. E é urgente é imperativo que verbalizemos o amor. Com a palavra e a profundidade que ele merece.
A maior e melhor forma que temos de honrar a Sara é essa – dizer o amor. Fazê-lo. Cantá-lo.
Obrigada Sara. Até já. A única coisa maior que o legado que deixas, é a saudade que fica”, escreveu Carolina Deslandes, no Instagram.